Professor transforma diário em HQ e relembra tragédia do Rio Doce em 'Doce Amargo'

"Doce Amargo", é o livro de hoje na Biblioteca do MG1 Um diário escrito para eternizar lembranças virou livro em quadrinhos. A tragédia ambiental causada pe...

Professor transforma diário em HQ e relembra tragédia do Rio Doce em 'Doce Amargo'
Professor transforma diário em HQ e relembra tragédia do Rio Doce em 'Doce Amargo' (Foto: Reprodução)

"Doce Amargo", é o livro de hoje na Biblioteca do MG1 Um diário escrito para eternizar lembranças virou livro em quadrinhos. A tragédia ambiental causada pelo rompimento da barragem de rejeitos de Mariana, em 2015, foi o ponto de partida para "Doce Amargo", obra do professor e morador de Governador Valadares, João Marcos Mendonça. O título faz referência ao Rio Doce — “doce” de nome e “amargo” pela lama de rejeitos que há quase 10 anos, percorreu centenas de quilômetros, devastando vidas, ecossistemas e cidades até chegar ao oceano Atlântico. 📲 Clique aqui para seguir o canal do g1 Vales no WhatsApp Professor transforma diário em HQ para registrar o "Cenário de Guerra" da lama do Rio Doce e evitar que tragédia seja esquecida David Oliveira/Inter TV dos Vales A origem: o diário contra o esquecimento Quando o abastecimento de água foi interrompido e Governador Valadares entrou em colapso, João começou a anotar tudo o que via e sentia. “Comecei a fazer um diário dos acontecimentos, principalmente os banais, a partir do que eu e minha família vivíamos na cidade”, contou. O objetivo era claro: “que essa tragédia não fosse esquecida, principalmente para que ela não aconteça mais”, afirmou. O professor explicou que o registro nasceu da vontade de criar uma memória coletiva sobre o episódio e refletir sobre os modelos de desenvolvimento que levaram à tragédia. O diário, escrito entre 2015 e 2016, deu origem ao roteiro do quadrinho — um processo que durou quase nove anos, até virar livro. O cheiro da morte e o colapso da cidade Vários peixes estão sendo encontrados mortos nos Rio Doce e Santo Antônio Wilkson Tarres/G1 Entre as lembranças mais marcantes, João citou o dia em que levava a filha para a escola e ouviu dela: “Pai, está com cheiro de praia aqui hoje". "Me dei conta de que era o cheiro dos peixes mortos porque toda a forma de vida que existia no rio num raio de 660 km foi aniquilada, foi morta." O professor também descreveu o caos vivido em Governador Valadares, onde a população ficou dez dias sem água. Ao retornar de uma viagem, presenciou a chegada do Exército para distribuir água. Ele relatou ter ficado "muito assustado com a quantidade de pessoas, a histeria, a briga para poder conseguir água". A sensação, segundo Mendonça, foi de "estar dentro de um cenário de guerra, um filme apocalíptico". O professor disse que quis registrar o que não cabia nos noticiários: “essas situações do cotidiano e os pequenos acontecimentos que poderiam se perder”. A escolha do gênero: quadrinhos para todas as idades Doce Amargo é apresentado em formato de histórias em quadrinhos Reprodução Doce Amargo é apresentado em formato de histórias em quadrinhos, mas não se limita ao público infantil. “Apesar de ser destinado ao público jovem adulto, tive cuidado com a linguagem e a forma de mostrar os acontecimentos para que as crianças também pudessem ter acesso à história”, explica João. Ele defendeu que o gênero pode abordar temas profundos com sensibilidade: “O quadrinho é um gênero narrativo que dialoga com qualquer idade.” Do papel à memória coletiva Professor transforma diário em HQ e relembra tragédia do Rio Doce em “Doce Amargo” David Oliveira/Inter TV dos Vales O livro mistura relato pessoal e memória coletiva, transformando dor em arte. O roteiro levou quase uma década para ser finalizado. A etapa de ilustração e colorização durou cerca de sete meses. “O principal intuito é que essa tragédia não fosse esquecida. Que sirva para repensar os modelos que nos trouxeram até aqui.” Doce Amargo está disponível em livrarias físicas e plataformas digitais. O lançamento em Governador Valadares será no próximo sábado (8), data simbólica que marca a chegada da lama à cidade. Em Belo Horizonte, o evento aconteceu em 25 de outubro. Vídeos do Leste e Nordeste de Minas Gerais Veja outras notícias da região em g1 Vales de Minas Gerais.